A intenção era a de mergulhar
nesta cidade em busca de experiências. Mas precisávamos ir além. Só conhecer
cafeterias e beber bons cafés com os hermanos não caracterizam uma experiência
completa. Para isso, é preciso despertar os sentidos, despertar olhares, e mais
que tudo, atingir verdadeiramente as pessoas.
A ida à Argentina foi motivada
pelo convite que recebemos para apresentar o Projeto Umami no Seminário sobre
Comércio Exterior e Negociações Internacionais, realizado por uma parceria entre a Yuntas Internacional e a Universidade
Tecnológica Nacional de Buenos Aires (UTN), fundada em 1959[1].
O convite da palestra tinha como objetivo abordar as relações comerciais entre
Brasil e Argentina, tendo o café como um estudo de caso.
Em algumas palavras: o Brasil é o
maior produtor e exportador de café do mundo, embora poucos brasileiros saibam
disso. Neste sentido, o Projeto Umami visualizou uma oportunidade de levar este
conhecimento para os estudantes e profissionais de Comércio Exterior que
estavam em Buenos Aires e participavam do seminário. A lógica por trás desta escolha
é despertar o olhar dos futuros profissionais desta área para a questão do café
brasileiro, umas das mais importantes commodities do país.
Não seria exagero dizer que o
Brasil perde nesta balança comercial, uma vez que exporta muito grão de café cru
para países que irão torrá-lo e revendê-lo no mercado externo por um preço mais
valorizado. E mais que isso, o país perde a chance de exportar um produto
excelente, finalizado aqui, de maior valor e que poderia contribuir para o desenvolvimento
do nosso controle interno de qualidade. As exportações de café torrado e
instantâneo, ainda que significativas, são muito pequenas neste cenário, embora
a Argentina figure entre os principais importadores deste produto em sua fase
final. E ainda nem estamos falando de café de muita qualidade, café especial de
origem brasileira.
Importante deixar claro que o
Projeto Umami não tem como meta somente fazer uso da cadeia produtiva do café
para promover o turismo. Mais que isso, temos o entendimento de que a atividade
turística é uma ferramenta extremamente importante que pode, e deve, ser
utilizada para a valorização de um dos nossos principais produtos comerciais,
de importância incontestável para nossa história e cultura.
Por esta razão, além de
abordarmos na palestra a questão das relações comerciais envolvendo o café
brasileiro, decidimos utilizar este momento para apresentar o café especial
para a turma, totalmente leiga no assunto. Esta parte costuma ser muito
interessante, pois as primeiras reações costumam ser de surpresa: “Nossa, nem
sabia disso...” O momento da descoberta é sempre encantador. Mas não basta
apenas falar sobre café gourmet, café especial... Imprescindível também apresentar
o profissional do café, o Barista!
Uma palestra sobre café costuma
encher a boca de água... É mesmo um convite para o despertar dos sentidos. Com
os sentidos dispersos, já poderíamos passar para a outra parte da experiência: “Então,
quem gostaria de nos acompanhar para uma degustação de cafés especiais”?
Ao lado da UTN existem dezenas de cafeterias,
dentre elas algumas Starbucks, rede norte americana. Apesar de suas cafeterias espalhadas pelo globo não apresentarem ao cliente o trabalho artesanal e individualizado do barismo (já que usam principalmente máquinas automáticas), representam o pioneirismo no que toca à apreciação e valorização de cafés especiais. A Starbucks foi umas das responsáveis por disseminar a cultura do consumo de cafés de qualidade pelo mundo. Por esta razão, dentre as cafeterias existentes na Argentina, a
Starbucks foi escolhida para o primeiro contato consciente do grupo com o café especial.
E fomos muito bem recebidos pela rede, que reservou uma sala e nos ofereceu uma
degustação de cafés, sob orientação de um de seus baristas.
O barista argentino nos recebeu
com duas french press e blends de diferentes origens do mundo. Depois que todos
apalparam os pacotes de café, os grãos e o própria cafeteira francesa, o
sentido trabalhado foi o olfato... É incrível
como o aroma de um café especial é completamente diferente do café extra torrado
que estamos acostumados no dia a dia brasileiro! Muito bacana a reação das
pessoas ao perceberem a riqueza do aroma... E esta experiência, de despertar os
sentidos básicos de uma pessoa que nunca teve contato com o café especial é bem
gratificante.
O estímulo visual proporcionado
por uma degustação como esta é bem marcante! Observar a french press trabalhando,
o formato dos grãos de café, até mesmo sua cor, é inevitável. A cor do grão de
café especial costuma ser marrom-dourada, ou marrom avermelhada... bem
diferente da imagem que as pessoas costumam ter, decorrente da associação
inconsciente com aquele pó preto ao qual
estamos habituado! O grão de café é lindo, e mais lindo ainda é ver como é
fácil se apaixonar por ele...
E aí veio o paladar e a
harmonização com alimentos doces e salgados. Era a hora da verdade, quando as
pessoas experimentam o café, depois de todos estes estímulos anteriores...
Confesso até que deve ser bem difícil não gostar, pois nosso corpo e nossa
mente já estão bastante receptivos, em razão do processo. E ainda assim, o café
nos surpreende! Sem açúcar! Imagine... O que são pessoas acostumadas com o “café docinho nosso de cada dia”, de
repente ingerirem um café puro... e gostarem. E gostarem!
Tem como não se perguntar: por
que eu nunca soube disso antes? Não, não tem... Aliás, confesso que no início,
quando comecei a observar as pessoas passando por esta experiência e se
perguntando o porquê de não terem este conhecimento, cheguei à conclusão de que
isso não é algo surpreendente. É óbvio! Mesmo quem não tem muito o hábito de
beber café, muito provavelmente, vai rever seus conceitos.
Uma experiência como esta nos
mostra como existe um mercado consumidor potencial no Brasil. E como o
brasileiro quer ter acesso a cafés de melhor qualidade no seu dia a dia. Nós
amamos café, naturalmente. Ele está presente todos os dias em nossos lares. E
ainda que hoje já seja possível encontrar cafés especiais à venda em padarias e
supermercados mais especializados, o preço do mesmo não é nem um pouco
convidativo. E poderia ser diferente? Paradoxalmente, o café especial é raro
por aqui...
O turismo pode contribui muito
com este processo de democratização do café especial. Primeiro por que uma
pessoa em trânsito, principalmente em outro país, está mais aberta a novas
experiências. Segundo por que a atividade turística permite e estimula uma
troca muito interessante. Numa cidade como Buenos Aires é quase impossível não
querer tomar café. Ainda que esta experiência tenha sido urbana e por isso não
tenha permitido o contato com a terra, com o meio rural, caminhar pelas ruas da
cidade e perceber como valorizam o café brasileiro, como ele está presente nas
vitrines, nas máquinas de espresso, nos pacotes de blends especiais, desperta o
olhar, chama a atenção para nosso produto. Os argentinos amam o café do Brasil
e não é só nas cafeterias não! Nos supermercados, nos restaurantes, nas casas,
ele está lá. O país não produz café. Seu consumo depende das importações,
principalmente do café brasileiro e do colombiano.
Quando perguntei ao meu amigo
argentino o que ele queria que eu levasse do Brasil, ele nem pensou duas vezes:
quero café. Nós somos o país do café! Por que ainda não percebemos isso? O
Projeto Umami trabalha para contribuir com um novo olhar sobre este potencial
do país. Queremos que os brasileiros conheçam seu produto e tenham acesso a
ele. Por isso investimos em viagens que despertem os sentidos, não importa
quais sejam eles ou de que forma. Para cada tipo de público, um tipo de
abordagem. Para cada realidade, um tipo de leitura. Cada experiência será
única, desde que ela seja capaz de tocar na alma de quem tem a vivência.
Na Colômbia, na Argentina, no
Brasil, em Minas Gerais, em São Paulo, não importa. A grande questão é ampliar
o olhar, oferecer novas perspectivas e contribuir para que o primeiro passo
seja dado, para que a pessoa, por si só, tenha o interesse de seguir adiante,
de se aprofundar em sua busca. Esta experiência na Argentina foi bem diferente
da experiência que tivemos na Colômbia, pois lá estávamos com um grupo de
pessoas que já conhecem o café especial e gostariam de aprofundar seus
conhecimentos. Em Buenos Aires, nossos participantes nunca tiveram contato consciente
com café especial, e por esta razão, esta foi uma experiência de descoberta!
Descobrindo os sentidos...
O Projeto Umami acredita em
experiências.
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Confira as fotos no álbum Degustando Buenos Aires
Texto e Fotos: Marina Moss
[1] Criada com a função de criar, preservar e transmitir a técnica e a cultura universal no campo da tecnologia. Saiba mais aqui!
[1] Criada com a função de criar, preservar e transmitir a técnica e a cultura universal no campo da tecnologia. Saiba mais aqui!
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