Café Especial



“Café Especial” é um termo usado para identificar aquele café que tem um valor diferente dos demais. Acontece que é bem complicado definir o que é especial para cada pessoa. Já parou para prestar atenção aos rótulos quando você vai ao supermercado comprar café? Hoje, já encontramos vários termos como “café gourmet”, café superior”, “café tradicional”, “café especial”. Essas palavras são usadas ainda indiscriminadamente, apenas pelo interesse da indústria em realçar a imagem do seu café na prateleira, fazendo-o preferido pelo consumidor em relação aos demais.

Isso nos deixa um pouco confusos. Em que confiar, na embalagem mais bonita, nos selos, no preço? Uma pequena conversa aqui pode ajudar a esclarecer os consumidores mais inexperientes.

Existem, no mundo do café, diversas organizações que certificam a qualidade dos grãos comercializados. A ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café) desenvolveu o Programa de Qualidade do Café. Esse programa permite a classificação do café em quatro categorias, de acordo com as notas alcançadas em uma avaliação: café impróprio para o consumo, café tradicional, café superior e café gourmet. Os cafés que recebem nota inferior a 4,5 são considerados impróprios para o consumo, por terem grãos em mal estado de conservação, estragados e defeituosos, e não podem ser comercializados. Aqueles que recebem nota entre 4,5 e 6,0, são chamados “tradicionais”. Os pontuados entre 6,0 e 7,2 são chamados “superiores” e os que recebem nota maior que 7,2 em 10, são chamados “cafés gourmets”.

Simplificando, essa classificação mostra que, entre os café apropriados para o consumo, existem alguns que têm características mais agradáveis, e por isso são melhor classificados e, geralmente, mais caros. Porém, essa classificação da ABIC é feita apenas para empresas associadas, e vem acompanhada de um selo da instituição na embalagem. Cafés que usem esses termos sem apresentar o selo, não foram avaliados e não há nada que comprove sua qualidade além do fabricante.

Outra organização que qualifica os cafés é a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais, na sigla em inglês). Ela certifica os cafés que são considerados “especiais”. Para ser especial, um café precisa ser avaliado segundo uma metodologia internacional, que avalia as características do café, assim como o sistema da ABIC. Os cafés com notas maiores de 80 pontos em 100, são considerados especiais, por terem atributos como doçura, aroma, sabor e corpo diferenciados. A BSCA também fornece um selo que vem com o número do lote, que permite a rastreabilidade: você pode inclusive entrar no site da associação e, com esse código, conferir de onde veio seu café. O termo “especial” também é usado por algumas marcas sem o selo, e mesmo que muitos desses cafés sejam mesmo bons, o consumidor só terá a garantia do fabricante.

Cada vez mais os produtores e torrefadores de café buscam certificações, agregando valor ao produto. Essas certificações podem ser focadas em vários aspectos, como a agricultura familiar, o comércio solidário, a responsabilidade ambiental e a qualidade do grão. Cada mercado consumidor dá valor a alguns quesitos, e por isso o preço conseguido com os selos é melhor.

Mas e para você? O que é especial?

É importante conhecer a classificação dos cafés para não comprar gato por lebre. Mas o valor do café é algo muito subjetivo. Pense naquele café que um parente antigo torrava no fogão à lenha, moía no pilão e coava no coador de pano. Pense no coador de pano da sua avó que é o mesmo desde a juventude dela. Pense nas xícaras de ágata fumegando e cheirando a rapadura, em uma casa simples onde você faz uma visita. Quero ver quem tem coragem de dizer que nenhum desses cafés é especial.




Do ponto de vista do Barista, que é o especialista no preparo do café, especial é aquele café que, pelas suas características sensoriais, oferece uma experiência gastronômica rica e agradável para o consumidor. Mas do ponto de vista do turismo, a experiência extrapola o aroma e o sabor, envolvendo também os demais sentidos. Um café de qualidade questionável que é degustado em um ambiente diferenciado ou acompanha um causo curioso sobre o próprio grão também podem ser experiências valorizadas.

Para nós, café especial é aquele que permite uma experiência que nos retire da zona de conforto, dando prazer ou nos levando à reflexão. Queremos que esse café seja comprovadamente de qualidade e bem preparado, mas temos que reconhecer que uma boa experiência pode existir mesmo sem que os protocolos sejam seguidos. A experiência pode, inclusive, fazer com que um café passe a ser especial. É uma questão de mudar o foco do olhar.

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